Resposta a um senhor chamado Roberto Abreu

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Escrevi essa mensagem no site Brasil 247 na página de comentários a artigo meu lá publicado (leia aqui) em resposta à tentativa de divisão e incompatibilização com a Igreja Católica Romana e com os Freis Betto e Leonardo Boff, escrita por um senhor chamado Roberto Abreu.


Prezado senhor Roberto Abreu (o senhor é parente da senadora Kátia Abreu?)

Obrigado por ler e considerar meu texto.

Pelo respeito que tenho ao que escreveu e ao fato de se referir ao que escrevi é que teço considerações, dando-lhe os parabéns por ser leal no debate e por assinar seu nome (ou é um pseudônimo?), sem se esconder no anonimato ou por detrás de pseudônimos, como fazem os fracos, infelizmente.

Penso que o senhor se equivoca no mínimo em quatro sentidos: A. Não tive e não tenho intenção de criticar a Igreja Católica Romana. Tenho por essa grande igreja e igreja grande enorme respeito. Recebi boa parte de minha formação de sua catequese e minha vocação sacerdotal surgiu em suas missas. Reconheço a relevância de sua missão no mundo, principalmente na solidariedade aos pobres e injustiçados e pelos teólogos sérios e profundos que forma, entre eles os grandes Freis Betto e Leonardo Boff. Eu também sou católico, embora não romano. Certamente o senhor sabe que não existe somente uma igreja católica no mundo. A romana é uma das maiores, mas não é a única. Eu sou de tradição anglo-católica, veja aí a raiz de minha catolicidade. Tenho enorme admiração pelo Papa Francisco, um grande ser humano e cristão. Claro, não tenho a mesma consideração pelos seus dois antecessores por serem colaboracionistas da direita e do imperialismo.

B. Jamais propus no meu texto opor Boff e Betto. Pelo contrário, ambos são unidos na luta libertadora do povo brasileiro e referências mundiais para todos os povos. Esses dois teólogos são absolutamente indispensáveis na luta social brasileira e latino americana. Ajudaram muito no diálogo com o socialismo cubano e o Vaticano, por exemplo, e na articulação da aliança estratégica entre o cristianismo e o socialismo, num debate que precisa acontecer para desanuviar a ilusão de que os cristãos têm que ser capitalistas. O amigo debatedor sabe que muitos desinformados alegam que o socialismo nasce de uma vertente ateia, por isso os cristãos não devem ser socialistas. Ignoram a falácia desse argumento, sem saber que o socialismo, que o marxismo e a revolução não são dogmas nem religião, mas métodos para a transformação da realidade. Enganam-se quanto à base religiosa do capitalismo. Este se coloca no lugar do próprio Deus endeusando-se como lucro, a quem se rendem os mercados e os Estados, sob cujas botas são humilhadas multidões e seus direitos oprimidos.

C. O senhor confundiu a crítica que fiz a um aspecto do encontro dos teólogos com a Presidenta Dilma com dividir Boff e Betto e criticar a igreja romana. O senhor não leu o elogio que fiz a Frei Betto quanto à impressão dele relativamente à falta de críticas por parte dos assessores que servem a Presidenta Dilma, sempre dispostos ao louvor à autoridade e ausentes de críticas conscietizadoras e necessárias. Frei Beto e Frei Boff fizeram as críticas importantes e respeitosas, as quais a Presidenta agradeceu.

A crítica que fiz a Frei Betto o senhor não entendeu, provavelmente porque não conhece o debate que se dá nesse sentido no movimento social e no movimento ecumênico. A crítica que fiz ao fato de Frei Betto não ser sensível à aliança entre a classe trabalhadora, empresários a partir da Nação como mediação e ponto nevrálgico de união de todos os setores sociais, econômicos, políticos e culturais do País, não desmerece a enorme obra política representada pelo apelo à Presidenta para que dialogue com as bases. Frei Betto conhece muito bem o que o senhor ignora, que há salutar divergência entre os que pensam que são possíveis e necessários os avanços sociais na substantivação do empoderamento da classe trabalhadora e da afirmação dos direitos sociais, considerando o mal maior representado pelo imperialismo, unindo-nos no mesmo campo nacional trabalhadores urbanos e rurais e empresários, ao contrário dos que pensam que os dois polos são irreconciliáveis, inseguros que são temendo que isso redunde no nacional socialismo nazista. Costumo dizer que há correntes que leem Marx como manual e como dogma, sem entender sua aplicação numa luta contra poderoso e complexo inimigo comum. É preciso avançar unidos para superar e resolver as contradições impostas pelo imperialismo, que rapina trabalhadores e empresários.

D. O senhor faz referência que não reconheço o direito de dona Kátia se converter. Eu não disse nada sobre isso em meu texto quando trato de currículo dela como madrinha das eliminações de indígenas, de quilombolas e dos direitos dos trabalhadores camponeses nem relaciono sua transição do DEM para o PMDB, portanto para as bases do governo Dilma, como conversão. E da enorme contradição de sua participação no ministério da Presidenta que prometeu mudar mais com reformas. Se fosse assim deveríamos considerar Eduardo Cunha um santo, um justo. Ora, convenhamos isso não é conversão, mas jogo de interesses e de conveniências, sem mudanças profundas de propósitos. Claro que dona Kátia pode e deve se converter. Quando isso acontecer ela se aliará aos indígenas, aos quilombolas e aos agricultores sem terra na luta por reforma agrária. Convertida, a dona Kátia será apaixonada pela justiça social e aliada dos movimentos dos sem terra. Pois ser cristão, necessariamente, é ser justo na luta pela eliminação das raízes da injustiça. Não é possível servir a dois senhores. Pelos frutos se percebe que dona Kátia atualmente não serve ao Senhor que lutou e morreu pelos pobres. Ela pode gastar os dedos fazendo o sinal da cruz e espatifar seu rosário com orações que de nada significará, além de reza-reza inconsequente e infrutífero, como os fariseus dos tempos de Jesus já faziam, cujas práticas foram abominadas pelo Libertador.

O senhor faz menção aos erros gramaticais em meu texto. O senhor tem razão. Peço perdão. As falhas foram minhas, pois o escrevi num momento de sério problema de saúde, quase cego. Acolho sua crítica como contribuição ao cuidado com nossa língua pátria.

Finalmente, repudio o uso que o senhor fez do fato de eu ser bispo anglicano. Vi nisso abuso com a intenção de me diminuir e de me opor à igreja romana, sem entender ou fazer que não entendeu, que o que proponho no que escrevi não passa pelo divisionismo maledicente e prejudicial ao Brasil justo com o qual sonhamos.

Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz sociais.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano, desvencilhando-me das armadilhas divisionistas.

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