O mercado é a sombra fantasma no vale da morte

Terceirização

Caro amigo Venicio Siqueira

Li com atenção o artigo do grande Cientista Social, o Prof. Emir Sader (aqui). O autor oferece importante reflexão sobre as relações promíscuas entre o mercado e o Estado.

Nessa relação polar Emir define como de direita os que defendem o mercado e de esquerda os que defendem a supremacia do Estado e sua missão na defesa dos cidadãos e dos direitos humanos.

Realmente estes dois campos se digladiam na busca e reforço de espaço no poder de Estado, subdividido em executivo, legislativo e judiciário, todos sustentados pelo povo, principalmente pelo suor dos trabalhadores, de onde proveem os robustos impostos, pagos ou desviados, e toda a gama de corrupção capitalista.

O mercado venceu o Estado e o povo cada vez que impôs seus interesses centradamente no lucro, como sua alma vital.

Assim aconteceu na Inglaterra de Margaret Thatcher, quando privilegiou o mercado e jogou os direitos trabalhistas no lixo e os trabalhadores na miséria e no desemprego.

No Brasil Fernando Henrique Cardoso levou o País ao mais extremo estresse sufocando os trabalhadores e a sociedade civil ao aplicar a ferro e fogo a lei neoliberal do mercado máximo e Estado mínimo.

As consequências desastrosas foi o desossamento do Estado com a venda e banalização trambiqueira das estatais e esvaziamento de investimentos em tudo que diz respeito aos direitos sociais e bem estar do povo.

A sombra enferrujante, mofante e apodrecedora do mercado, perverso por natureza, não poupou espaços e estragos. Invadiu a educação sucateando escolas de todos os níveis, fazendo da educação mercadoria gerida e comercializada por desalmados sem consciência social e nacionalista, atentos aos lucros e reduzidos à produção de idiotas para o mercado, sem cultura e sem humanidade.

O fantasma do mercado desalmadamente esculhambou a saúde, coisa que os capitalistas querem somente como negócio, pois o cuidado com o bem estar dos trabalhadores que os enriquecem não lhes interessa. Tudo em termos da saúde, que gira em torno do tripé consultório/clínica/hospital, farmácia e indústria farmacológica, visando unicamente o lucro, é privado. Veja-se o desastre das privatizações desta área aqui em Goiás com o desgoverno Marconi. São tapas diários no povo, cada vez mais abandonado.

E assim, a sombra do mercado invade estupidificando tudo, escurecendo e destruindo em favor do lucro e dos interesses mesquinhos dos corruptos por origem e natureza. Até mesmo as igrejas, como seguidamente ressalto, viraram antros do vale da sombra da morte, totalmente viradas templo de Jerusalém, enfrentado a chicotadas iradas dadas por Jesus, onde tudo se vende: orações, curandeirismos, prosperidade, sucesso, casamentos arranjados, terapias picaretas, promessas de salvação, livros água com açúcar, vídeos, cantores baratos e alienantes, invenção de capetas e tudo o que se imagina e mais o que não se imagina.

Nada escapa da avalanche sombria do mercado. Até mesmo o Governo Dilma, originado em 2002 para desconstruir o solapamento nacional, entrega boa parte dos interesses brasileiros ao ganancioso e bestial sistema financeiro, a pior face do terror mercadológico.

O último grande golpe da noite sem fim imposta pelo mercado, dessa vez contra o que há de mais primoroso e digno de respeito no Brasil, a nossa classe trabalhadora, foi a aprovação em primeira etapa pela Câmara da lei da terceirização.

O Congresso Nacional, sequestrado pelo mercado, com seus deputados e senadores comprados em eleições corruptas e sujas, na maioria empresários impatrióticos e anti nacionais da indústria e do campo, desrespeita nossos trabalhadores e esmagam seus direitos.

O evangélico Eduardo Cunha, que tem pacto com o demônio do mercado nos seus piores seguimentos, desrespeitou os trabalhadores e a própria justiça e empurrou a polícia composta por traidores para bater nas lideranças das centrais sindicais e esvaziar as galerias do plenário da Câmara. Assim, aninhado ao capital sangue suga, às escuras, empreendeu a maior marcha criminosa contra os direitos trabalhistas assegurados desde a era Vargas.

A derrota dos direitos sociais com a molecagem opressora dos desvairados chupadores do sangue do povo, ao aprovar em primeira instância a terceirização, é o segundo grande golpe em poucos dias. Antes esses mesmos baderneiros da justiça social decretaram prisão, destruição e morte das crianças pobres ao reduzirem a idade penal para 16 anos.

Parte da Câmara, com o evangélico Eduardo Cunha à frente, tem ódio dos trabalhadores e das crianças pobres. Tudo o que querem é complacência com os crimes e injustiças dos colarinhos brancos e calabouço para os pobres.

Dói na alma ouvir deputados desclassificados, verdadeiros vermes sugadores do suor e do sangue de quem produz, ofender nossos trabalhadores chamando-os de baderneiros quando lutavam contra o golpe representado pela terceirização.

Dói assistir policiais filhos de trabalhadores, provindos dos setores pobres de nosso povo, virarem bandidos cegos e surdos obedientes às ordens desumanas do evangélico e corrupto Eduardo Cunha, desgraçadamente presidente de uma casa que virou antro de negociatas e perversidades daninhas ao País, bater e jogar spray de pimenta nos olhos de quem gritou para a nação enxergar os crimes que praticam contra a produção de riquezas e de bens.

Spray é símbolo dos mais violentos que os cegos de consciência dos direitos sociais jogam nos trabalhadores e nos manifestantes na tentativa de cegá-los para que não reajam aos golpes sombrios contra a legítima democracia com justiça social.

  • Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz sociais.
  • Dom Orvandil: editor deste blog, idealizador e presidente da Ibrapaz, ativista da Anistia Internacional, bispo da Diocese Brasil Central e professor universitário.

6 comentários

  1. Amigo professor Orvandil, é verdade que o momento em que vivemos é extremamente delicado e preocupante, sobretudo porque não temos um movimento coeso e seguro na implementação da luta dos trabalhadores. Mas também é verdade que a guerra ainda não está perdida. Ainda não chegamos ao fundo do poço para revertermos o processo. Mas não quero repetir o que você falou nem o comentário dos colegas. Para início de conversa, a coisa, o tal do mercado, já não presta pela rima:MERCADO: MERCADORIA, MER….????

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  2. Quando tomei conhecimento dos deputados e senadores eleitos em 2014, falei para um amigo, que era o pior Congresso Nacional eleito pelo povo. Depois veio a eleição do “capo” Eduardo Cunha e, a manutenção do “capo” Renan, no Senado. De quem é a culpa?
    Temos para piorar, ainda, mais um povo inculto e que é “bestificado” pela mídia.
    O que podemos esperar de um país como esse?

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  3. Que texto fantástico! É um grito de revolta, de alguém que sabe o que diz e porque diz. Amigo, que DEUS continue dando-lhe coragem, saúde e perseverança, para seguir, sem desanimar nessa verdadeira maratona de esclarecimento. O maior mérito do seu trabalho é mostrar erros, indicar caminhos e apresentar soluções. Bem diferente dos idiotas, alienados que saem , “como Maria vai com as outras” , gritando pelas ruas, sem saber o que gritam e por que gritam. Pior ainda, ignorando as consequências que seus atos, podem trazer, em prejuízo contra a humanidade. Que DEUS o abençoe, amigo Dom Orvandil Moreira Barbosa. Um fraternal abraço. Yolanda Soares Azambuja – Uruguaiana – RS

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