A polícia violenta será desmontada pela sociedade

Polícia homicida

Amigo Roberto Ormedilla

Numa das vezes em que fui preso em Santa Maria no Rio Grande do Sul, em 1980, porque participava das lutas do povo, os policiais foram absolutamente violentos e desrespeitosos comigo. Um deles, que me acompanhou à polícia federal no carro que eu dirigia, me ofendeu o tempo inteiro me jurando morte, caso fosse condenado pela lei da segurança nacional da ditadura e preso nas suas masmorras.
Muitos anos após esse evento, já em contexto democrático, um grande e querido amigo meu de Caxias do Sul foi algemado na frente de sua família e amigos porque “ousou” questionar a abordagem de policiais, marcada por desrespeito e agressividade.
Outro dia fiz uma palestra sobre os direitos humanos numa faculdade aqui de Goiânia quando fui interrompido por dois policiais estudantes de direito, rancorosos contra a defesa que fazemos dos pobres e negros, que eles acusam de serem vagabundos, bandidos e marginais. Um deles apresentava-se com mais ódio e desequilíbrio do que o outro.
Fui convidado a participar de um grupo no what’s app denominado de “Comando Florestal 2”. Recebi o convite de um pastor que dizia integrar uma ONG que defende as florestas e habitantes amazônicos. Por isso quis debater a violência policial. Em pouco tempo impactei-me com o ódio de membros do grupo que demonstraram ser parte de uma milícia paramilitar, composta por policiais. O discurso deles é o mesmo dos criminosos que ocupam cargos de policiais nas forças de segurança do Estado, chegando a afirmar que “bandido bom é bandido morto”. Chegaram a discursar e aconselhar seus membros a matar assaltantes e suspeitos. Quando os questionei sobre a arrogância policial, sempre pronta a julgamentos sem juiz e dispostos a praticar a pena de morte, ilegal no País, me disseram que aconselham a matar logo porque a justiça é muito demorada. Caso algum membro do ministério público se interessar em investigar o grupo tenho aqui os números dos telefones de sua milícia.
Todos os dias se vê nas ruas policias de pistolas e fuzis apontados para pobres e negros, principalmente trabalhadores que usam motos e o transporte coletivo. Isso em todo o País. Todos os dias as notícias somam toneladas de sangue dos assassinados por policiais.
A ONU declarou-se estarrecida com a polícia brasileira, a mais violenta do mundo.
Efetivamente que uma sociedade precisa de policiais e de segurança. Mas precisamos depurar nosso sistema policial e nossa segurança, ainda armados com a ideologia, o ódio e os aparatos da ditadura, que para eles ainda não acabou. Para essa ideologia os pobres, os negros, os estudantes, os indígenas, os trabalhadores e os movimentos sociais são inimigos internos a serem enfrentados pela força bruta das armas.
Entre os avançamos que nossa sociedade precisa fazer está o de reformar o sistema policial. Esse violento que aí está não serve ao povo nem à democracia.
É evidente que a polícia não se reformará por pura boa vontade a partir dela mesma. Da mesma forma que a ditadura militar não caiu por vontade dos militares golpistas, a reforma, com base nos direitos humanos e nos interesses sociais, tem que emergir da sociedade democrática em busca de justiça social.
• Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz sociais.
• Dom Orvandil, OSF: editor deste blog, idealizador e presidente da Ibrapaz, bispo da diocese Brasil Central e professor universitário.

3 comentários

  1. Querido Amigo Dom Orvandil Moreira Barbosa, confesso-lhe que relutei, por muitos dias em comentar seu texto sobre a ” Violência da Polícia”. Em primeiro lugar, por chocar-me, cada vez que tomo conhecimento do preço que pagou, por defender seu Ideal.
    Em segundo lugar porque, mantendo as devidas proporções, por muitos anos, sofri violência e desamparo por parte da Polícia Civil; da Brigada Militar; da Promotoria; da Prefeitura Municipal; da Câmara de Vereadores.etc.
    Todo esse constrangimento sofrido, refletia no comportamento agressivo da comunidade, porque os Poderes Constituídos sinalizavam que não concordavam com meus pensamentos e com o meu trabalho.
    O amigo acompanhou desde o início das atividades da Escolinha, uma vez que participou da Solenidade Ecumênica de sua fundação em 1973. Quando transferimos nossa Entidade, para a Sede Própria, o ambiente era tranquilo. A criação de um Porto Seco, quase ao lado da escola, deu início ao nosso martírio. Enfrentamos o preconceito dos alunos da área central da cidade. A corrida para as “invasões” nos campos próximos, fez com que em poucos dias eram centenas de novos moradores. Acompanhei dia à dia, a derrocada das famílias. Mãe entregando filhas pra caminhoneiros; meninas disputando caminhoneiros com prostitutas.Mães e filhas na mesma atividade. Homens comprando meninas de 8 anos, por R$ 50.00. (mães vendendo filhas de 8 anos).
    Comecei a bater de frente com toda essa gente. Antes eu era “a professora que resolvia quase todos os problemas, dos moradores”. Passei a ser “a velha louca, idiota, débil mental”. Muitas noites, não consegui dormir, devido aos apedrejamentos. Nossas aulas eram invadidas. As meninas eram estimuladas à prostituição. As que continuavam na Escola, era ridicularizadas.
    EDUCAÇÃO É À LONGO PRAZO. A prostituição traz o retorno financeiro imediato. Aí estava o nosso maior problema. Procurava “autoridades” e nada conseguia. Quando eu telefonava para a Brigada ou para Polícia, sempre perguntavam, de forma irônica: – ” O que é agora, professora Yolanda?
    E nada faziam. Enfrentei algumas jovens Promotoras. Certa vez, protocolei um documento na Câmara de Vereadores, onde constava que um determinado pai, era “bêbado, mau caráter e mau exemplo pra seus filhos”.
    Um Vereador, que chegou a ser Presidente da Câmara, retirou do protocolo o documento, e deu ao “pai”, uma cópia, estimulando-o a entrar na Justiça, contra mim. Enfrentei “Cinco Processos, na Justiça”. Todos estimulados por “autoridades”. Empobreci financeiramente, pagando Advogados para defender-me. MAS, ENRIQUECI EM EXPERIÊNCIA, EM CORAGEM, EM DISCERNIMENTO. APRENDI OS CAMINHOS QUE LEVARAM-ME A DEFENDER-ME.
    Numa ocasião, munida de farta documentação rumei para Porto Alegre, registrando denúncia: Nos Conselhos Estaduais: da Criança, da Mulher, do Idoso. Na Ouvidoria da República. Nas Corregedorias: da Brigada e da Promotoria. Retornando à Uruguaiana, fiz um Relatório por onde andei, e protocolei o mesmo em todas as Repartições denunciadas.
    A única repartição que reagiu , foi a Promotoria. Imediatamente “intimou-me” para no dia seguinte, prestar esclarecimento. O PROMOTOR DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA, na época, encerrou-me à chave na sua sala, e de denunciante, passei à ré. À tudo que eu argumentava, para ele, era “natural”.
    Ex: crianças estimuladas a roubarem; a comercializarem a droga; etc.
    Quando falei das crianças na prostituição, o “infeliz Promotor, aproximou-se bem de mim. Olhando bem nos meus olhos, disse-me, textualmente: ” Ora professora, que não sabe que a cidade está cheia de meninas “violadas”, A cidade não. O Estado. O País. O Mundo!
    Tudo era normal. Passei adiante: ao roubo e destruição das coisas que “eu” estava construindo e que era de pronto destruído. Aí ele deu-me a estocada final, dizendo-me: – ” Quem me garante que não foi a senhora que mandou destruir isso. (com a foto da destruição na mão).
    Fez tudo para que eu perdesse a paciência, para poder enquadrar-me. ( Em mais de trinta anos de magistério, nunca perdi a paciência com um mau aluno, não seria com uma “autoridade, tão respaldada, QUE EU PERDERIA A MINHA PACIÊNCIA E A MINHA RAZÃO!
    Então disse-lhe: desculpe-me Senhor Promotor, creio que falamos linguagem diferente.
    Disse-me: “Creio que sim. Quando a Senhora tiver alguma coisa mais convincente, volte aqui”. e saiu, deixando-me, engasgada na garganta, a tristeza de ver, alguém que era pago, pra defender crianças, agindo daquela,triste forma. Deixei passar cinco meses. Numa manhã levantei-me, fiz uma descrição desse “encontro”. Reconheci a firma. Enviei à Presidência da República e ao Ministério da Justiça e Segurança, em Brasilia. Com as devidas cópias autenticadas, voltei aos Conselhos Estaduais, e direto à Corregedoria. Sozinha, sem acompanhamento de Advogado nenhum. Tenho toda a documentação, bordada de carimbos. Senti que lavei minha alma.Desculpe-me amado amigo Dom Orvandil, por não saber sintetizar e alongar-me tanto. Um grande abraço.

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