imagem Papa Francisco: o profeta de pontes

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Querida Irmã e Professora Dileta Zanchette
Imagino sua alegria ao acompanhar a trajetória do profeta de pontes, o Papa Francisco.
Nosso mundo cobre-se de sombras ao mesmo tempo em que os gritos por justiça e paz se escancaram a partir das margens das rupturas brutais, que fazem a humanidade sangrar.
Da África nossa mãe saem novamente seus filhos aos milhões em busca da sobrevivência. São expulsos pela barbárie movida pelos bancos, pelas indústrias de armamentos e petroleiras, que se apossam de suas riquezas naturais. Boa parte desses nossos irmãos morre tragada pelos mares.
Tudo como consequência do ódio e da estupidez de um mundo construído sobre os cadáveres dos explorados e alimentado pelo sangue dos escravos.
Nossa América Latina é, desde as invasões europeias, vítima do roubo e do extermínio de nossos povos nativos.
Depois das declarações de independência nossos países caíram sob novos modelos de colonizações. No centro das relações internacionais a predominância que sempre reinou absoluta foi a dos interesses dos mercados da Europa e dos Estados Unidos, que rapinam nossas riquezas. Portanto, a autonomia interna das nações era e é relativa à ganância dos poderosos países centrais.
Cuba governada pelo ditador corrupto Fulgêncio Batista era considerada motel dos gringos estadunidenses, que usavam as lindas praias e paisagens como locais de perversidade, desperdícios, farras e escravizações do povo cubano.
Minha querida Irmã sabe que a realidade não é estática nem as injustiças são eternas. No coração da escravidão e da barbárie se move a revolução, ainda que invisível.
Foi sob a crueldade da colonização espanhola que nasceu José Marti, herói venerado pelo povo cubano. Homem culto, poeta, filósofo, sábio e sensível à realidade cruel da opressão imposta pela matriz colonial, verdadeira obra do mal, lutou, foi preso experimentando o reino da baixaria sádica a que o submeteram na prisão. Frágil, saiu e exilou-se na Espanha de onde retornou para a luta com seu povo, sendo emboscado e assassinado.
O sangue de José Martí irrigou a consciência do povo, enraizando nele a necessidade de organização e de luta contra a nova colonização, comandada pelos Estados Unidos.
No contexto da opressão desumana nasceu um grupo de jovens que na universidade tomou conhecimento de Marti e da opressão. Rapidamente aliou-se ao povo que gemia sob o tacão de Tio Sam. A partir das massas os lideres revolucionários pressionaram Batista e o convidaram insistentemente a dialogar com o povo que buscava dignidade. Nunca foram ouvidos, enquanto isso o povo se fortalecia na sua consciência de luta e da descoberta de que a opressão é obra humana e pelas pessoas pode ser desconstruída.
Desde o México, onde se encontravam exilados, jovens comandados pelo estudante de direito Fidel Castro enfrentaram, num barco precário, o mar em direção à Ilha onde empreenderam a revolução que expulsou do governo o corrupto e colaboracionista traidor.
Fidel Castro enfrentou o pão que o diabo amassou. Perdeu milhares de cubanos que traíram o povo e desertaram. Entre eles mais de cinquenta mil médicos, verdadeiros piratas da saúde popular, que viram seus lucros ameaçados e fugiram do País deixando o povo entregue à morte e às doenças sanitárias, num País sofrendo as consequências dos saques promovidos pelo novo império.
Fidel organizou o País. Fortaleceu o Estado e o disponibilizou ao povo, seu alvo principal. Sofreu novas investidas militares por parte dos Estados Unidos, que quase provocaram uma guerra nuclear para destruir a independência cubana.
Aquele País pequenino venceu a miséria, o analfabetismo, as doenças e o vazio de cidadania. Tornou-se exemplo em todos os campos humanos: na saúde, na educação, na engenharia, no combate ao alcoolismo e na consciência política.
Apesar de tudo isso foi perseguido por vários setores que se deixaram envenenar pela propaganda dos Estados Unidos. Entre as instituições mais históricas colocadas contra o novo regime cubano o Vaticano cujo Papa João XXXIII, certamente enganado por parte da cúria, excomungou o líder da revolução.
Porém, a realidade na sua dinâmica criativa e inteligente, se impôs aos olhos cubanos e do mundo. Por isso a Ilha recebeu as visitas de 3 Papas. Mas a que causa maior impacto no Continente e no mundo é a do Papa Francisco.
Nosso irmão Francisco, desde a primeira hora de seu pontificado, dá sinais de que lado está. O seu lado é da ação para criar pontes. Pontes de paz como fruto da justiça social.
Na Bolívia profeticamente denunciou o capitalismo como origem de todas as injustiças. Agora em Cuba elogia aquele País por sua contribuição à paz mundial. Na Praça da Revolução pregou que os cubanos são o povo santo e fiel a Deus que caminha em Cuba. Acentuou que é um povo que tem gosto pela festa, pela amizade, pelas coisas belas e também tem feridas, mas sabe abrir os braços.
Para não deixar dúvidas, Francisco agradeceu ao Presidente Raul Castro pelos esforços a favor da paz entre as FARCs e o povo colombiano, cujas mediações são feitas pelo governo cubano.
Francisco é pastor na acepção mais profunda do evangelho. Para ele Jesus se manifesta no povo, nas suas alegrias e festas ao comemorar as vitórias construídas coletivamente.
O Papa Francisco é profeta que constrói pontes. Sim, as pontes do diálogo e da justiça social.
Porém, é bom que se destaque que as pontes que o Papa ajuda a construir são as que unem o povo nele mesmo a favor de mais paz.
Esta voz profética ressoa como esperança num momento em que o ódio se despeja em todas as direções. Além das consequências assinaladas acima destaco que em outros lugares da América Latina, como no Brasil, por exemplo, o ódio se avoluma para destruir as pontes de paz. Aqui há uma oposição que funciona como usina geradora do ódio e da morte. Sua gente junta-se com as piores pessoas da mídia para urdir traições e golpes.
Felizmente o Papa Francisco é o profeta que constrói pontes. Mas pontes com as cabeceiras a favor do povo, dos pobres, dos injustiçados e dos excluídos e não com as cabeceiras que desembocam nas salas da casa grande.
• Abraços críticos e fraternos a luta pela justiça e pela paz sociais.
• Dom Orvandil, OSF: editor deste blog, presidente da Ibrapaz, bispo do Centro Oeste e professor universitário.

Um comentário

  1. Olha,me sinto muito feliz ao ver o papa fazendo esta visita a cuba,isso só reforça a minha certeza de a igreja precisa cada vez ser povo e estar com o povo.Este encontro nos remete ao Jesus de Nazaré em meio ao povo de sua época,dizendo o que pensava e esperava do Reino de Deus.Fidel Castro deu exemplo ao mundo de uma política séria e comprometida com mudanças para trazer dignidade ao povo. É possível mesmo que em um pedacinho de chão tão pequeno.Basta ter vontade política,ética,coragem e determinação.Salve Fidel,Salve Papa Francisco.

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